segunda-feira, 28 de novembro de 2011

28 de novembro

Quase passou despercebido, mas o dia de hoje representa muito para o meu, digamos, "Gremismo". Dois dos momentos mais marcantes da minha vida de torcedor aconteceram justamente neste dia, com apenas um ano de diferença entre eles.
Em 1995 houve a final do Mundial, contra o Ajax. Eu tenho um aperto no peito só de lembrar daquela manhã, a última em que passei no nosso apartamento em Horizontina antes de ir para meu intercâmbio na Alemanha: que judiaria, que injustiça. O Grêmio foi forte, valente, mas... 
Foi uma das poucas vezes que o futebol me fez chorar. Perdemos, mas saímos de cabeça erguida.

Um ano depois eu estava em Porto Alegre, havia começado o meu cursinho pré-vestibular no Mauá há poucos dias e o Grêmio disputaria a segunda partida das quartas-de-final do Brasileirão de 96 contra o Palmeiras, naquele que foi o maior clássico brasileiro da década de 90. Pela primeira vez na minha vida tive a oportunidade de assistir um jogo ao vivo no Olímpico. Até hoje fico arrepiado ao lembrar-me da emoção que senti ao ver a luz dos refletores ainda dentro do T2 lotado.
O jogo foi a cara do Grêmio do Felipão: começamos perdendo mas viramos na segunda etapa (os jogadores devem ter ouvido poucas e boas no vestiário), com gols de cabeça. Que festa! Que alegria! Inesquecível.



A lembrança ficou a cargo do site Grêmio Hoje. Muito obrigado.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

No egoísmo selvagem

Uma pessoa que é capaz de abrir mão de tudo o que tem para ir em busca de um sonho e para quem o mais importante é a sua liberdade. 

Àqueles que estão cheios de trabalhos para fazer e responsabilidades para administrar, é provável que isso desperte uma certa inveja. Afinal, quem não gostaria de ser livre para fazer o que quiser, independente da opinião dos outros?

Isso foi o que almejou Christopher McCandless, cuja história inspirou o livro e depois o filme Na Natureza Selvagem (ou no original, Into the Wild). Apesar de ler e ouvir muitos elogios a respeito da história, demorei para ver o filme, embora tenha quase comprado o livro no século passado, quando o tive em minhas mãos à sombra dos jacarandás da Praça da Alfândega. Acabei devolvendo-o ao livreiro, o que se mostrou ser uma sábia decisão: a minha imaturidade de então certamente faria com que eu formasse uma opinião equivocada a respeito do protagonista e não percebesse nele a figura incoerente, egoísta e incapaz de amar que ele realmente foi.

Chris, apesar de criticar com veemência a sociedade, o dinheiro, a carreira profissional, o apego aos bens materiais, não se furtou em se valer de frutos desta mesma sociedade para se manter: afinal, se a humanidade fosse formada por indivíduos misantropos como ele nunca conseguiria atingir os avanços tecnológicos e o conhecimento que temos hoje em dia r que nos permite constuir carros, trens, armas de fogo, lunetas, facas, imprimir livros e confeccionar roupas para suportar o frio. Por trás de um saco de arroz há milênios de evolução da agricultura, irrigação, agronomia, geologia, química e até metalurgia. Foi a sociedade desprezada por ele que lhe possibilitou matar a fome com arroz cozido após suas infrutíferas caçadas. Um mundo sem relações comerciais, sem empresas, sem pessoas dedicadas ao trabalho, sem responsabilidades conseguiria construir um ônibus como aquele em que ele se protegia do frio? (Aliás, um belo International Harvester K-5 de 1946, segundo o IMCDb, de onde eu "roubei" a foto abaixo). Por que ele não cavou um buraco na terra, usando somente às mãos, é claro? Por que não construiu uma casa com pedras?


Numa tentativa de justificar a revolta do rapaz, em certo momento o filme começa a retratar antigos conflitos familiares, a péssima relação entre seus pais, a vida de aparências, a relação fria entre pais e filhos, motivos que teriam sido determinantes na formação da personalidade do protagonista. O que ele faz? Tenta reconciliar seus pais, mostrar-lhes que estão errados? Não, ele era egoísta de mais. Pouco importava a situação de seus pais, o que eles pensavam, como estavam e o quanto eles sofreriam com sua partida e com a impossibilidade de restabelecer contato. Apenas a satisfação pessoal lhe interessava. Como se ele não tivesse nada a ver com tudo o que seus pais estavam passando, que tudo aquilo não era seu problema também. Muito melhor e mais fáciel é sair andando sem rumo pelo país.

Mas o grande problema do nosso "herói" era outro. Chris mostrou-se uma pessoa incapaz de amar: nem seus pais, nem a hiponga que queria transar com ele, nem ninguém durante toda a história. Àqueles que poderiam ser-lhe úteis para atingir o seu intento, Chris dispensava certa cordialidade, mas nunca amor. Com isso, conseguia angariar alguma simpatia por onde passava, o que facilitava sua tarefa de viver às custas dos outros. Mas para quem não lhe era útil restava apenas e seu desprezo. Dado momento ele vê um sorridente jovem de terno em uma lanchonete e sobre este rosto projeta o seu, como se esse fosse o futuro que lhe estaria reservado caso continuasse seus estudos ou começasse sua carreira profissional. Na sua mente egoísta viu um escravo do "sistema", um alienado, indiferente à miséria que existia naquelas ruas e que aliás devia até ser um dos responsáveis por tudo aquilo. Pouco importava se na verdade tratava-se de um jovem dedicado, estudioso, querido por todos, que visitava com frequência seus pais ou seus avós, talvez até um responsável pai de família. Se ele estava feliz e bem vestido, é porque era cúmplice de todo o mal do mundo.

Por fim, Chris consegue seguir o seu caminho e chegar ao seu destino. Não quero entrar no mérito do quanto deve ser divertido morrer de fome, frio e dor de barriga num lugar lindo como o Alasca. Para mim, "Alex Supertramp" foi um baita idiota.
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