terça-feira, 30 de setembro de 2008

Mágoa

Hoje magoei uma pessoa.

Como isso me fez mal. Juro que não foi essa a intenção, mas quando percebi, um par de lágrimas escorria, uma em cada lado do seu rosto. Demorei pra entender o que ocorrera. As minhas primeiras três perguntas não obtiveram resposta. Somente depois lembrei-me do que eu tinha dito.

Confesso que estava nervoso, nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos, mas aquilo foi mais um desabafo, um extravasar. Não queria ofender, diminuir, magoar aquela pessoa.

Mas foi o que aconteceu.

Tentei contornar a situação. Expliquei-lhe que não fora essa minha vontade, que fora uma brincadeira, brincadeira de mal-gosto e que não funcionara, mas que em momento algum quis ser grosseiro. E pedi desculpas, duas, três vezes. Acho que até foram quatro.

Espero que ela tenha entendido. Tenho minhas dúvidas, mas acho que sim. Ao menos eu compreendi algo que minha professora de português do 3º ano já dizia: “as palavras são armas”.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Consolação

O que dizer após um domingo desses, quando presenciei a derrota do meu Grêmio frente ao seu tradicional rival, em pleno terreno inimigo, com nítidos contornos de humilhação?

Alguns procurariam um culpado, outros tentariam entender as razões do ocorrido, uns desqualificariam o adversário, enquanto que outros, assim como eu, buscariam algum consolo.

Se perdemos, não somente o jogo, mas como também a liderança da competição, nos resta perceber que, aos poucos as coisas vão voltando aos seus lugares. O emergente time do inter está retomando o seu papel de coadjuvante no cenário futebolístico, cujo único objetivo é minar as pretensões maiores do Grêmio.

E isto me consola um pouco (ou será que me ilude?)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Essa é pro santo.

Constatação minha de alguns dias atrás: encontrei uma forte relação entre o chimarrão, o vinho e a cerveja.

“Elementar, meu caro Watson, os 3 são bebidas.”

Eu sei disso, pô, mas é algo mais profundo. Não são simples bebidas, são bebidas abençoadas.

Estou escrevendo pela manhã (o primeiro paciente cancelou sua consulta), e tomando um amargo, como de costume. Convém iniciar minha explanação com este legado guarani: estes índios tomam a caá-i há séculos, seja pelo poder revitalizante da cafeína contida nela, seja para atenuar o gosto ruim de certas águas, seja para enfrentarem o frio do vento Minuano, ou mesmo para passar o tempo. Bebida que invariavelmente causa estranheza a quem toma contato com ela pela primeira vez, não é de se estranhar a contrariedade inicial dos Jesuítas para com ela. Mas os Inacianos não só perceberam os benefícios advindos da infusão como também enxergaram o grande valor comercial do produto. A venda de erva-mate era uma das principais fontes de renda das Reduções Jesuítico-guaranis, e o pessoal de Buenos Aires cevava seus mates com erva produzida pelos missioneiros. Mas o problema é que esta era uma atividade exclusivamente extrativista, pois se desconhecia o modo de produzir mudas da Ilex paraguaiense. E aí que entram os soldados de Santo Inácio, que além de versados em teologia, arquitetura, música, letras, história, metalurgia, eram mestres em botânica, sendo que desenvolveram um método eficiente para a produção de mudas, possibilitando a multiplicação dos ervais. Se o produto hoje é tão popular e acessível a todos, isto se deve muito ao trabalho da Companhia de Jesus.

E o vinho? Bem, o vinho tem milênios de história, mas foi durante a Idade Média que os mosteiros europeus aprimoraram o cultivo das uvas e a produção de seu tão precioso sumo, tanto por sua importância canônica, como para a subsistência dos monastérios, pois muitos sobreviviam da venda deste vinho. E foi num mosteiro na região de Champagne, na França, que aconteceu uma revolução na enologia. Reza a lenda que o monge beneditino Don Pérignon, que mesmo sendo cego era responsável pela produção dos vinhos, provocou uma segunda fermentação em algumas garrafas, que acabaram estourando. Ao provar o líquido resultante, ele teria dito “parece que estou bebendo estrelas”. Pena que o fato seja bem mais sem graça do que a versão. Na verdade, Don Pérignon era um grande enólogo, cujo conhecimento foi fundamental na criação desta bebida refrescante e saborosa que é o espumante.

E a cerveja? Bem, quem lê o ADHD Controlado já sabe como ela surgiu, mas bebida é do jeito que bebemos hoje por causa, novamente, dos mosteiros europeus (eram os MIT’s ou CALTECH’s da época), que adicionaram o lúpulo à receita. E o que é a cerveja hoje? Basicamente, um fermentado de malte temperado com lúpulo. Como os monastérios primavam pela auto-suficiência, a maioria deles produzia cerveja, o que foi fundamental para o desenvolvimento da bebida. Se hoje existem cervejas como a Paulaner, Augustiner e a Franziskaner, é porque paulinos, augustinianos e franciscanos produziam tão precioso líquido. Existem casos emblemáticos, como a criação de uma cerveja especial, com um teor alcoólico maior, para saciar os monges durante os longos períodos de jejum da Quaresma, cerveja que hoje é conhecida por Doppel Bock.

Mas não há como associar cerveja com monges sem falar dos Monges Cistercienses ou Trapistas. Expulsos da França por Napoleão, fundaram mosteiros na Bélgica e na Holanda. Como as terras da região não eram propícias à produção de uvas, os mosteiros começaram a fazer cerveja para vender. E que cerveja! Hoje as cervejas trapistas possuem elevada reputação para com os entendidos, com destaque especial para a quase inacessível (e impronunciável) Westvleteren. Para bebê-la, ou vá ao bar ao lado do mosteiro, ou compre no próprio, após uma romaria que merece um texto exclusivo. O Xavier Depuydt tinha algumas para vender em sua antiga loja na Rua Normandia, a módicos R$ 99,00 a garrafa de 300 ml, mas hoje “só tenho umas parrra mim”, diz o belga, com seu sotaque de Olivier Anquier.


Na próxima vez que forem tomar um vinho, uma cerveja ou um chimarrão, dêem graças a Deus.

domingo, 21 de setembro de 2008

Ponto Final.

Ando meio relapso em relação às minhas leituras. Mas continuo, devagar e sempre. Finalizei El nacimiento de uma pasión, de Alejandro Fabbri, que um grande amigo me trouxe direto de Buenos Aires. Como já havia comentado aqui, o livro versa sobre a fundação dos principais clubes de futebol da Argentina. Uma ótima leitura pra quem gosta do assunto. Chama a atenção o fato de muitos clubes terem ligação com ingleses ou com ferroviários (o que muitas vezes era a mesma coisa), de muitos clubes terem sido fundados por adolescentes e as histórias das mudanças das canchas dos clubes. Destaque para o River, fundado no bairro da Boca, e para o Independiente, fundado em Buenos Aires e cuja primeira camisa era branca (como a usada no jogo contra o Estudiantes na Sulamericana deste ano).

Ótimo livro.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Yo gusté

Medialunas, dulce de leche, mantequilla, duraznos, ciruelas, pomelos, estava tudo lá. Era um desayuno digno de um rei, mas eu merecia, sim senhor. Após cinco longos anos de trabalho, sofrimento, dúvidas, incertezas, espera e alegrias, finalmente estavam chegando ao fim as minhas primeiras férias após o inicio da minha atividade profissional.

Após 9 dias e quase 2000 Km percorridos na Republica Oriental del Uruguay, eu acabara de acordar depois da minha última noite de sono em solo charrua. Que viagem maravilhosa, que momento maravilhoso! Tudo era perfeito, as cores, os sons, a inflexão da luz, os odores, os sorrisos, a comida, tudo... Mas como deixar de ser se eu estava concretizando algo almejado e planejado durante anos?

E foi neste momento mágico que eu ouvi pela primeira vez aquele som. Que melodias bonitas, que música bonita. Meio rock, meio pop, com certa influência de ska em alguns momentos. Quem canta isto?, perguntei ao garçom.

- No te va gustar – respondeu.

Como assim, se eu já tinha gostado? Repeti a pergunta. E ele a resposta. Este era mesmo o nome da banda.

No te va gustar. Um nome bem diferente mesmo. Mas pouco importava o nome. Antes de atravessar a fronteira, decidi procurar os discos desta banda uruguaia no comércio informal de Chuy. Comprei dois cd’s e até hoje escuto estes e outros trabalhos deles, tanto no carro quanto no consultório.

Mas uma coisa me intriga: será que o som deles é tão bom assim a ponto de me agradar logo na primeira vez? Será que o fato de eu tê-los escutado em um momento totalmente favorável em questão de bem-estar e satisfação não foi um fator preponderante? Se eu os tivesse ouvido em outra oportunidade, será que minha reação seria a mesma? Acredito que não.

Mas também, num ambiente como aquele, e na felicidade em que eu me encontrava, até Exaltasamba e Seu Jorge iriam me agradar.

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Neste sábado, dia 20, a banda uruguaia faz show em Porto Alegre.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vale a pena tudo isso? II

Acho que já estou começando a ver as coisas de outro modo: ontem cancelei o paciente das 20:30.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Vale a pena tudo isso?

Trabalhar é bom, principalmente quando se faz o que se gosta e nos sentimos realizados. E necessário também. Na finada União Soviética, os comunistas diziam que "quem não trabalha não come" (hoje esses mesmos comunistas dizem que "quem não trabalha recebe "Bolsa Família"). Agora, isso tem um porém: até que ponto vale a pena sacrificar longas horas de um breve dia em nome do trabalho? Será que não estamos dando demasiado valor a coisas como retorno financeiro, status, projeção profissional? Será que já paramos para pensar que muitas outras coisas, extremamente mais importante do que estas citadas acima, podem estar sendo deixadas de lado?

Começo a trabalhar às 7:30, e dificilmente saio do consultório antes das 20:00 (isso quando não fico aqui até às 21:30), com muitas vezes não mais do que 60 minutos de intervalo ao meio-dia. É verdade que dou graças a Deus por ter a oportunidade de trabalhar, mas será que não estou deixando de fazer coisas que poderão talvez um dia me fazer falta? O dinheiro que eu ganho supre o tempo que eu deixo de estar com meus pais? Ficar junto das pessoas que eu amo, brincar um pouco com meus cachorros, cuidar de um canteiro da horta, ir à missa ao final do dia, comer uma fruta direto do pé, caminhar pela praça, respirar o ar ainda puro da minha cidade, ver o pôr-do-sol, será que estou fazendo bem em abrir mão de todas essas coisas por causa de umas restaurações e uns tratamentos de canal? Começo a pensar seriamente que não. Nossa passagem por esta terra é muito curta.

Pode ser que a pessoa com a qual conversamos trivialidades ontem a noite possa ser encontrada caída no banheiro na manhã seguinte. Mas aí talvez seja tarde demais...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Meme

Ontem recebi um Meme.

MEME???

Mas que diabos é um "meme"? Como eu, um cara simples, habitante de um longínquo rincão afastado de tudo, como eu posso saber o que é um "meme"?

Não adianta, quem não se atualiza fica pra trás. E não é só na Odontologia. O mundo moderno nos obrigou a desenvolver uma série de termos para coisas que não existiam há pouco tempo. Só pra ficar na web (o primeiro exemplo), cito chat, browser, blog, spam. ..

Até então eu achava que estava conseguindo acompanhar estas nomenclaturas. Mas agora alguém me vem com esse tal de "meme"...

As vezes admiro os índios Guaranis pela simplicidade do seu idoma: para eles, tudo o que for água/líquido é i. Rio é i, bebida é i, chá é i, lago é i. Acredito que eles utilizariam um único termo para designar internet e todas suas variantes, algo como neteê.

Mas voltando ao meu Meme, ao invés de utilizar o velho recurso do selvagem em um ambiente hostil (esperar, observar e imitar), expus minha ignorância perguntando o significado do termo. Imagino o pessoal derrubando suas xícaras de café sobre os teclados, de tanto rirem. Tomara que tenham estragado seus periféricos.

Azar, agora todo mundo já sabe que meu nível e-ntelectual não é dos mais elevados. Bem, neste Meme (espécie de corrente, alguma alma bondosa me esclareceu), devo citar 10 mulheres do cinema ou tv que me tiram o fôlego. Prometo que farei em breve, assim que alguém me explicar o que são gadgets.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Dores


Hoje, 15 de Setembro, é dia de Nossa Senhora das Dores, título concedido à nossa mãe do céu para lembrar suas "sete dores".

Talvez este não é o dia mais propício para se fundar uma entidade.
Maria sofreu por seu Filho. Os torcedores de um certo clube fundado neste mesmo dia também são obrigados a sofrer as dores e os suplícios das vicissitudes do futebol.

São raros os títulos que o Grêmio conquistou com facilidade, sem causar sofrimento à sua torcida. Inferioridade numérica, gols nos minutos derradeiros, quando não na prorrogação, apreensão, angústia, esta tem sido a sina do Grêmio.
E não seria diferente neste 2008. Apesar da pinta de favorito ao título do Campeonato Brasileiro, o Grêmio não irá conquistá-lo de maneira fácil, com rodadas de antecedência e sem impingir sofrimento e dor à nação Gremista. A derrota neste sábado, em casa, contra o pequeno goiás, é só uma mostra do terror que há de vir.

Pois é meus amigos torcedores deste Grêmio que hoje completa 105 anos, preparem seus corações para suportar as rodadas, os sofrimentos e as dores que hão de vir.

sábado, 13 de setembro de 2008

Cavalos de Bronze

Rivera, Lavalleja, Zabala, Aparicio Saravia e, é óbvio José Artigas. Estão todos lá, firmes, impávidos, altivos, irredutíveis e... oxidando, nas praças de Montevideo. Eles e seus cavalos.

Estátuas eqüestres são presença constante em países cuja história foi escrita sobre o lombo dos cavalos, com suas fronteiras demarcadas com os cascos destes, como é o caso dos hispano-americanos. Não é de se estranhar que figuras eqüinas sempre apareçam nos monumentos aos grandes heróis nacionais. Em eventos marcantes da história destes países, como lutas pela independência e outros conflitos bélicos, o cavalo sempre esteve presente e desempenhou papel crucial.

Bastante comum nos países vizinhos, este tipo de escultura é bastante raro no Brasil. Lembro-me de apenas quatro: as estátuas de Bento Golçalves e do General Osório, em Porto Alegre, a do Duque de Caxias em São Paulo e a do Beto Carreiro em frente ao parque homônimo. Na capital paulista, às margens plácidas do riacho Ipiranga, há um belo alto-relevo eqüestre, mas não uma estátua. Talvez os meus três leitores possam me ajudar citando outras.

Já nos países lindeiros elas aparecem inclusive em cidades de menor porte, como Paysandu, no Uruguai, e Posadas, na Argentina. E foi nesta, capital da província de Misiones, que tive uma grata surpresa nesta semana: assisti a um encontro de grupo de danças de diversos países. Não que eu goste de danças, muito pelo contrário, acho algo muito sem graça. Mas pouco dispendi da minha atenção com as mesmas, o que me interessou mesmo foi o clima cosmopolita, com hondurenhos, costariquenhos, paraguaios, bolivianos, mexicanos e muitos outros numa mesma praça, aos pés da estátua do General Libertador San Martin. Dele e de seu cavalo.

Era uma visão inusitada, numa pequena área, pessoas de diversas nacionalidades, com feições distintas e indumentárias das mais variadas, como um menino boliviano com inúmeras sinetas pendurados em sua calça. Coitado, seu andar era todo desengonçado. Judiaria fazer isso com uma criança, somente um povo que elege um Evo Morales da vida faria algo do tipo.
Com certeza, o palco das apresentações contribuiu para a beleza da cena. Se o evento tivesse sido realizado em algum outro lugar, como um teatro, um parque de eventos ou um lonão, talvez não tivesse me causado a mesma impressão. Aliás, eu nem me prestaria a ir ver. Mas nesta praça, tudo ficou mais belo. Acredito que San Martin e seu cavalo influenciaram positivamente para que eu saisse de lá tão satisfeito.

Essa é a função da arte, não apenas instigar a nossa imaginação e chamar atenção, mas nos trazer o belo, o agradável, o prazer.

Mas algo me inquieta sempre que me deparo com este tipo de escultura: o bronze das estátuas costuma ser fiel às feições dos heróis retratados. Mas será que esta fidelidade abrange também os heróis eqüínos? Será que houve algum cuidado em relação ao focinho, à crina, ao porte do cavalo em questão? E o nome deles? Se todos sabem que o cavalo do Zorro se chamava Silver, o do Alexandre, o Grande era o Bucéfalo e o do Pica-pau era Pé-de-Pano, por que o nome do cavalo do San Martin não consta em nenhum de seus monumentos?

E tem algo que eu considero ainda pior, o bronze nos omite uma informação de extrema importância a respeito de um cavalo: o seu pêlo. O companheiro de Artigas era um zaino ou um tordilho? Um alazão, ou um gateado?

A arte nunca deixará de ser polêmica

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

500

Este blog atingiu a inacreditável merca de 500 acessos, número modesto, é verdade, mas impensável para algo que fora criado de modo totalmente despretencioso. E mesmo que deste total, uns 150 sejam de minha responsabilidade, o número significa que existem pessoas que se dão o trabalho de abrir esta página. Já identifiquei, inclusive, 3 (três) leitores.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Donde estás corazón?

Há uns quatro dias que a música "Donde estás corazón", da colombiana Shakira, não sai da minha cabeça.

Muito estranho, deve fazer uns três anos que não a escuto, mas do nada ela chega e se impregna nas minhas sinapses.

Estou começando a ficar um pouco preocupado.

On the road

(Fechando a trilogia dos blogueiros da FAECV, iniciada aqui e continuada acá.)

Uma das maiores preciosidades na biblioteca da minha casa é uma coleção com inúmeros exemplares da revista Quatro Rodas, especialmente do final da década de 70 até meados da década de 80.

Cresci folhando, olhando e lendo estas revistas. Com elas tinha acesso aos novos lançamentos, como o campeoníssimo de vendas Gol (ainda hoje me lembro da capa, onde um indefectível Gol vermelho, “motor de geladeira”, andava numa praia, abaixo do título “Este é o Gol”), o hoje raro Fiat Oggi e a Chevrolet Marajó, igual a que o pai tem na garagem desde maio de 1981; assim como ficava sabendo de antemão quais seriam as novidades que viriam, como o Monza e Santana 2000, ou aquelas que provavelmente nunca virão, como a Brasília II e o Ford Sierra brasileiro. Também gostava dos testes comparativos: Corcel II x Passat X Dodge Polara, Chevette x Fiat 147...

Adorava acompanhar meu pai em ambientes automobilísticos, como oficinas e postos de gasolina: o cheiro de óleo, a sujeira, os motores (os pôsteres também, é claro), tudo me fascinava.

Comprei meu primeiro carro em 2002, um negócio de pai para filho, literalmente. Mas foi mais por uma hipótese profissional que acabou frustrada do que por uma necessidade. E é o mesmo carro que tenho até hoje. Acho que sou a única pessoa do meu círculo de amizades que tem um automóvel do século passado. Nada contra o meu carro, ele nunca me deixou na mão, mas penso que gosto mais de andar de carro do que do carro em sim.

Pegar a estrada é uma afirmação da liberdade, da individualidade, da onipotência, do vigor. Não é de se estranhar a tamanha identificação dos homens com o automóvel.



Como moro numa cidade pequena, dificilmente utilizo meu carro no dia-a-dia. Chego a deixá-lo a semana inteira na garagem. Gosto de utilizá-lo como uma válvula de escape, um divertimento, um prazer. Quando estou estressado, vou para a estrada: vejo o mundo passar ao meu redor, o passado pelo retrovisor, e vou seguindo o meu caminho, mesmo sem ter certeza do destino. Eu e meu carro, meu micro-cosmo particular, onde posso escutar a música que eu quero, com a pessoa que eu quero, parar quando oportuno, necessário ou mesmo desejado, regressar, prosseguir, acelerar, diminuir o ritmo. O carro é uma metáfora da vida que poderíamos e gostaríamos de ter se tantas liberdades não nos tivessem sido cerceadas.

domingo, 7 de setembro de 2008

Dos solos destes filhos da mãe, gentil...




Se um dia no porvir
Minha pátria eu for servir
Hei de honrar esta bandeira!


Este hai-kai tupiniquim é uma das lembranças que tenho desta época do ano nos meus primeiros tempos de colégio. A semana da pátria era um evento grandioso, com uma programação intensa: apresentações, jograis, poesias e ensaios, tudo exaltando as belezas e o amos a terra mãe, além dos exaustivos ensaios, para que tudo corresse bem no gran finale: o Desfile de 7 de Setembro.

E isso que já podia-se perceber uma certa decadência nestes desfiles. Ainda havia marcha, bandas, bumbos, trompetes, pratos, mas o espetáculo já deixava a desejar em relação ao que ocorria anos atrás. Era nítido o enfraquecimento das nossas instituições de ensino, que outrora foram responsáveis por dar à nossa cidade a alcunha de "berço regional da cultura", mas que estavam sendo assoladas pelas sucessivas crises econômicas, que culminariam com o fechamento de 2 das 3 das escolas particulares.

Mas voltando à minha época, ainda havia resquícios de um civismo forçado. Aliás, a minha geração foi a última a ter aulas de Educação Moral e Cívica (assim com a última a fazer curso de datilografia e a brincar com produtos não-chineses), herança dos tempos do governo militar. Mas como tudo que é imposto e onde não há espontaneidade, estas demonstrações de patriotismo forçados estavam fadadas a talvez não acabar, mas tornar-se uma mera formalidade.

Quando fui para Horizontina, vi que lá os desfiles ainda tinham força. O grande combustível, ao meu ver, era a rivalidade entre as escolas, bem mais forte do que em Cerro Largo, quando aproveitava-se esta oportunidade para uma instituição tentar demonstrar sua suposta e almejada superioridade perante a outra. O evento era bem organizado, com alunos uniformizados marchando e bandas exaustivamente ensaiadas.

Mas é claro que eu não gostava disso, e fazia de tudo para não participar da "festa", sempre dando um jeito de fugir na hora do desfile. Tínhamos (meus cúmplices e eu) até a cara de pau de ajudar a guardar os instumentos da banda, ao final do desfile, apesar de termos marchados em direções distintas.

Não sei como estão os desfiles em Horizontina nos idos de 2008. Aqui em Cerro Largo o espetáculo transformou-se numa mera caminhada, com alunos forçados a participar sob a ameça de sofrerem alguma pena caso se ausentem, e a platéia formada praticamente apenas pelos pais destes alunos. Não há nenhum sentimento de amor à pátria, civismo e tal, o que é compreensível para um país que, com exceção dos dias de Copa do Mundo, não consegue fazer com seus filhos tenham amor à sua bandeira.



Não pensem ser este um desabafo do signatário à falta de patriotismo dos brasileiro, especialmente cerrolarguenses. Sempre me considerei mais gaúcho do que brasileiro. Para mim, o Dia da Pátria não é o 7, mas sim o 20 de Setembro. Mas sou saudosista e lamento o fim de um espetáculo belo. Mas que também não faz mais sentido algum.

sábado, 6 de setembro de 2008

Death Magnetic


O clichê é paleozóico, mas todos sabemos que deste mundo nada se leva. Ou seja, tudo o que acumulamos temos que deixar a alguém, como nossas coleções de selos e de latinhas de cerveja, nossos livros, nossos exemplos e nossas glórias.


Talvez minha vida não seja tão gloriosa assim, mas tenho coisas com as quais me orgulhar. Por exemplo, no dia que eu tiver um filho (e hei de ter) quero dizer para ele, olho no olho: fui ao show do Metallica!

É ou não é motivo de orgulho? Mas sim, eu fui, lá no hipódromo Cristal, no ano 2000. Fantástico.


Pois este mesmo Metallica estava devendo aos seus fãs. Aliás, os fãs do Metallica (categoria na qual me incluo) são muito chatos: desde o Black Album que eles reclamam. Mas também, depois dos caras lançarem Kill' em All, Ride the Lightnign, Masters of Puppets e ...And Justice for all, é até esperado e compreensível que essa trupe reclame dos discos da banda. Mas o problema é padrão de comparação. Exagero. Pô, se a Carol Castro aparecer com 3 quilos a mais, alguém iria reclamar? Claro que não, caralho. Ela continuaria sendo uma gracinha. (que comparação estúpida esta minha...)


Mas é o padrão Metallica. O cara que se acostumou a ouvir o Metallica "antigo", torcerá o nariz com bons álbuns como o Load, Reload e o St. Anger. Esse que é o problema: são álbuns bons, porém aquém do esperado para uma banda que criou The Four Horsemen, Fade to Black e Sanitarium (Welcome Home).


Mas há algo de novo no front: a banda acaba de lançar Death Magnetic, seu novo trabalho. Apesar da incontrariedade do Lars e do James a respeito dos downloads grátis de músicas pela internet, baixei o disco. E digo, é muito bom, bom mesmo. Se os cara vierem para Porto Alegre, prometo que vou ao show.

Top 10

Ontem, assim como já acontecera anteontem, meu blog teve 10 acessos.

Dez acessos.

Isso é um recorde, uma façanha. Bem, na verdade devo considerar apenas 9, pois o meu acesso não conta.

Mas nada garante que este número se mantenha para sempre "tão elevado", pode ser apenas uma mera casualidade, um problema no contador ou algo relacionado a campanha política. E até é muito provável que uns 7 nem tenham lido nada.

Começo a ficar preocupado. Talvez esteja na hora de melhorar a freqüência e, principalmente, a qualidade dos meus escritos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vote em mim.

Tem gente que odeia o verão por causa do calor, outros detestam o inverno por causa do frio, e alguns não suportam a primavera por causa de suas rinites.


Costumo não esbravejar contra as condições meteorológicas, desde que tenha acesso a uma ambiente com ar-condicionado. Procuro direcionar meus poucos momentos de ódio a outros eventos, como campanhas eleitorais municipais.


Como eu tenho raiva dessa época. Principalmente porque, por puro interesse comercial, procuro manter a neutralidade. Para tanto, sou obrigado a cuidar o quê, como, com quem e para quem eu falo. Um nojo.

O pc do meu consultório mostra minhas fotos na proteção de tela. Numas delas, eu apareço ao lado de um dos candidatos a prefeito, numa reunião do Rotary. Antes que pensassem (ou melhor, insinuassem, porque pensar estes ignorantes não conseguem) algo a respeito da minha opção partidária, resolvi tirar a foto do HD.

Aliás, nem tenho opção partidária. Quando novo, inclinava para a direita. Virei esquerdista na minha época de universitário, mas hoje estou curado. Não vejo o porquê de votar em partido se ideologicamente não há diferenças entre eles. A única diferença é quem vai se beneficiar com a máquina. O que importa não é o sistema, mas sim a pessoa. Enquanto estas valorizarem mais o acúmulo material do que moral, as eleições não terão o menor sentido para mim.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Empregador

Hoje dei mais uma parcela de contribuição para o crescimento econômico deste país. De agora em diante, mais precisamente a partir das 13:20, sou um empregador, contratei uma estagiária para me dar uma mão no consultório.

Deveria ter feito isto antes...
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